sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Relato II. Desabafo...

Lendo, ainda a pouco, um relato de parto lindo, cheio de amor de uma mãe que desejava muito ter um bebê em seus braços, me senti um pouco estranha. No relato, a mãe descreve o processo lindamente, e tudo aconteceu como ela havia planejado: a bolsa estorou de madrugada, ela tomou um banho, arrumou as coisas com calma, foi para o carro com o marido, chegaram na maternidade, foram bem atendidos, o bebê nasceu, a mãe foi para o quarto junto com o bebê, amamentou e dali dois dias foram pra casa e viveram felizes pra sempre.

Que sonho!! Quando estava grávida, me aproximando do momento do parto, não fiquei tão tranquila quando eu gostaria. Porém, eu tinha uma certeza de que tudo estava sob controle, e quem controlava toda a situação era eu.

Eu imaginei assim:

Na madrugada, começaria sentir as contrações, o Rapha me ajudaria a contar os intervalos, eu iria ligar pra Cecília (minha doula), ela chegaria lá em casa e eu estaria no banho sentada na bola de fisioterapia, terminaríamos de arrumar as malas. Quando as contrações estivessem ritmadas de 5 em 5 minutos eu ligaria pro meu médico e pra minha mãe (não avisaria mais ninguém). Chegaria na maternidade, seria internada, ficaria na sala de pré-parto com o Rapha e com a Cecília, logo iria pra sala de parto, a Ana nasceria e iria direto pro meu colo pra ser amamentada. Um tempo depois O Rapha levaria a Ana pra pesar, medir, limpar... Depois eu iria pro quarto e lá estaria meus dois grandes amores (Ana e Rapha). Dias depois estaríamos em casa e seríamos felizes para sempre.

Geralmente é assim:

Quando a gestante chega na maternidade, faz o toque com um plantonista, é internada, fica sozinha naquela sala horrososa de pré-parto (onde ninguém pode entrar senão a equipe médica), fazem raspagem, lavagem intestinal, o médico entra na sala só pra escutar o coração do bebê e fazer o toque pra acompanhar a dilatação, a equipe médica só fica esperando a gestante ter dilatação total pra ir pra centro cirúrgico, daí entra o pai que 'pega o bonde andando', o bebê nasce, o pediatra mostra o bebê para a 'mãezinha' e pro 'paizinho', vai para outra sala limpar o bebê, medir, pesar, aspirar (coitado do bebê...) e só depois ele vai para o quarto encontrar a mãe para mamar...

Não foi de um jeito, nem de outro:

O final da minha gestação foi um tanto quanto conturbada: tive que trocar de plano de saúde pois não estava satisfeita com o plano antigo, mas não obtive sucesso. Tive que arcar com uma carência de 1 mês para consultas e 6 meses para o restante das coisas que o plano cobria. Enfim: não adiantou quase nada. Permaneci com o mesmo obstetra e com a mesma maternidade do plano antigo.

Com 39 semanas e 6 dias, fui numa consulta com uma outra obstetra (fora do meu plano de saúde) que me examinou, disse que eu estava com 4 de dilatação, que eu já estava em trabalho de parto e me sugeriu ir para a maternidade. Chegando lá fui super mal atendida, ninguém ligou para o plano de parto que eu havia feito com tanto carinho... Chorei, chorei muito. Minha mãe estava comigo e, tentando me ajudar, disse: "agora não é hora de brigar, faça como eles querem...". Nããão!! Minha doula tinha que ficar comigo!! Era meu direito!! Aliás: todas as gestantes brasileiras têm direito a um acompanhante da sua escolha durante o trabalho de parto, parto e pós-parto. Depois de muito chorar e lutar pelos meus direitos, minha doula, o Rapha e o Dr. Flávio (meu obstetra) chegaram. Segundo a plantonista que me examinou disse que eu teria que ser internada naquele momento. Mas eu não queria ser internada ainda: minha dilatação estava de 5 pra 6, mas não sentia nenhuma dor durante as contrações e a bolsa não tinha estourado... Apesar de tudo, eu ainda estava me sentindo bem e queria poder ficar o máximo de tempo com a minha mãe, com o Rapha e com a Cecília, todos juntos! Como meu plano só cobria enfermaria (quarto coletivo), resolvi pagar uma diária por uma suíte e poder ter todos comigo durante um tempo, e, depois que a Ana nascesse, o Rapha poderia ficar comigo no quarto sem problemas. Chegando todos no quarto, o Dr. Flávio fez o exame de toque e a bolsa estourou. Fomos, Cecília e eu para a sala de pré-parto. Uma sala pequena, fria, com dois leitos, paredes brancas com um relógio pendurado. Havia uma bola de fisioterapia: passei a maior parte do TP sentada nela, fazendo movimentos que aliviavam um pouco da dor e recebendo massagens da Cecília. De tempos em tempos o Dr. Flávio entrava pra fazer o toque e escutar os batimentos cardíacos da Ana. Cecília foi um anjo, se não fosse ela, não sei o que teria sido do meu parto. Já o meu obstetra... Quando ele pedia pra eu fazer força e eu não queria, a gente "brigava"... o Rapha disse que me escutava lá da sala de espera eu dizendo que não queria fazer força... Fiquei com dilatação total um bom tempo e a Ana tava bem 'alta', as contrações foram ficando muito fracas e eu acabei aceitando a ocitocina. Fomos pro centro cirúrgico, O Rapha chegou. Não me deram opção deposição senão ficar deitada, felizmente não foi uma posição incômoda, mas gostaria de ter tido mais liberdade pra procurar a melhor posição para parir. Logo que aplicaram a ocitocina as contrações ficaram bem fortes fazendo com que eu tivesse mais força pra fazer a Ana nascer. Cecília e Rapha seguravam a minha cabeça e outras duas enfermeiras empurravam a minha barriga para fazer a Ana sair. O que me deixa chateada é que nessas horas ninguém conversa com a gestante, simplesmente a equipe médica vai fazendo o que o médico manda fazer e pronto. Nenhum sorriso, nenhuma palavra para deixar a parturiente mais tranquila, mais calma... Só falavam pra eu não gritar quando fizesse força. E só. Nada mais. Tentei me concentrar e só pensar que a Ana estaria em meus braços em poucos minutos. E era isso que me dava mais força para fazer ela nascer.

Quando a Ana nasceu foi aquela correria, não sei até hoje como tudo aconteceu naquele momento. A pediatra pegou minha filha, mostrou pra mim e pro Rapha durante 2 segundos e saiu correndo. Ana aspirou mecônio, foi entubada na mesma hora. A pediatra voltou tempos depois e explicou tudo com 'calma' pra nós, mas no momento lembro de não ter entendido absolutamente nada do que ela disse, só que minha filha estava na UTI e eu não poderia vê-la. Eu senti que minha filha estava bem, e por mais incrível que possa parecer, eu não fiquei preocupada. Triste, sim. Em prantos.

Todos foram embora e me deixaram deitada sozinha, no escuro no centro cirúrgico. Ninguém me explicou nada, quanto tempo eu ficaria ali e porquê eu tinha que ficar sozinha. Acho que fiquei ali durante uma hora. Ouvia duas enfermeiras conversando lá longe, pela fresta da porta eu enxergava uma delas de costas, sentada numa mesa. Vomitei, acho que pelo esforço durante o parto. Chamei a enfermeira, ela demorou pra vir. Ela limpou um pouco da sujeira que eu fiz e saiu. Depois de uma eternidade fui levada ao quarto ainda meio tonta e sem saber o que pensar. Dormi do jeito que estava mesmo. O Rapha passou a noite no quarto comigo e dormiu no sofá que tinha na sala de estar da suíte. Acordei algumas vezes durante a noite. Tive pesadelos. Quando despertei, tomei banho, tomei café. Eram 7h da manhã e o Rapha ficou como uma 'barata tonta' no hospital perguntando quando é que poderíamos ver nossa filha. Cada um dizia uma coisa diferente. Ficamos até 11h da manhã nessa luta, que foi quando finalmente pudemos ver e tocar naquele ser mais querido e amado do mundo. Minha filha: simplesmente linda, perfeita com seus dedinhos longos, o nariz redondinho e arrebitado, uma boquinha de grandes lábios e os maravilhosos olhos de jabuticaba. Ela já não estava mais entubada. Porém, envolta de fios de monitoramento, tubos e acessos. Chorei. E muito. Passei dois dias chorando, sem parar. Entrei em depressão. A psicóloga do hospital tentou me ajudar, assim como o Rapha, os familiares e amigos. Mas nada adiantava.

No fim da tarde passei para um outro quarto (enfermaria, que era o que o meu plano de saúde combria, pois não era viável pagar mais uma diária para ficar na suíte). Eu sabia que teria direito de ter um acompanhante no quarto coletivo, mas não quis incomodar ninguém que teria que passar a noite numa cadeira, sem conforto só pra me acompanhar durante a noite. A psicóloga passou no meu quarto e conversamos bastante. Chorei mais um outro tanto. Voltei para a UTI Neonatal para ver a Ana. Eu não podia pegar ela no colo, pois toda aquela 'parafernalha' não deixava, e ela tinha que ficar com uma espécie de 'caixa' de acrílico trasparente sobre a cabeça, pois ajudava ela com a oxigenação.

Enfim: foi uma semana muito difícil.

  • No quarto, tive a compania de uma mãe que fez uma cesárea eletiva (com medo da dor).

  • Conheci uma mãe da UTI Neo que estava há 3 semanas com seu bebê aos cuidados das enfermeiras e pediatras.

  • Não fiz amizade com nenhuma enfermeira, aliás nem conversava muito com elas. Me passavam uma frieza no coração, um tanto quanto antipáticas, nenhum sorriso, nenhuma palavra de afeto, carinho... Nem 'Bom dia! A sua filha está bem, que bom que você tá aqui." Parece que não fazem questão nenhuma de entender um 'tiquinho' a situação que cada mãe está passando ali. Bom... talvez faça parte do trabalho delas não se envolver, só cuidar dos bebês e pronto.

  • Ana Clara teve icterícia. Ficou 5 dias em fototerapia.

  • Não fazia a mínima questão de visitas, mas a família (já viu, né?!) não aguentou de curiosidade. Tudo bem.

  • Não tirei fotos.

Entre tantas outras coisas que aconteceram que eu poderia escrever um livro. Mas... os dias se passaram, e a Ana tá crescendo linda e se desenvolvendo maravilhosamente bem. (Meu Deus... como minha filha é linda!!)

Mas ainda não superei o ocorrido. Choro muito (muito mesmo) quando lembro disso, fica um nó na minha garganta e um aperto forte no coração. Tenho certeza que nunca vou esquecer (e nem quero). Mas espero poder contar essa história pra Ana mas sem lágrimas nos olhos.

Imagem: arquivo pessoal. Foto de Daniel Isolani. Ana Clara quase chorando no colo da dinda e a prima tentando consolá-la.


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Colo de mãe... Carinho de pai...

O Rapha fica brabo quando a Ana tá chorando no colo dele, e quando ela vem para o meu colo, parece que ela simplesmente 'desliga'. Pára de chorar na mesma hora. Existe alguma coisa fantástica, um 'pó de pirilimpimpim' que faz qualquer um se sentir bem no colo da mãe.

Confesso que me sinto bem, muito bem quando isso acontece, pois sei que, por ela parar de chorar na mesma hora, quer dizer que ela não tá doente, não tem nada doendo, não tá machucada... Ela quer o meu colo, o meu cheiro, o meu calor e pronto! Mas, ao mesmo tempo fico triste, muito triste pelo Rapha, ele passa a Ana pro meu colo com um olhar magoado, infeliz por não conseguir fazer ela parar de chorar. Mas isso não faz dele 'menos' pai. Pelo contrário...

O Rapha é um SUPERHIPERMEGA pai. Eu e a Ana Clara temos a sorte de termos ele do nosso lado. Ele mudou os horários de aula antes dela nascer, pra poder chegar mais cedo em casa, me ajudar com o banho da filhota e ficar mais tempo com ela. Final de semana é sagrado: não tem nada que faça o Rapha sair e não curtir a família no domingo. Sem contar que ele troca fralda, dá banho, dá de comer e brinca MUITO com ela. Fazer a Ana dormir ainda é um pouco complicado pro Rapha... como já disse em um outro post, o sono da Ana é uma coisa meio difícil de lidar ainda...

Mente quem diz que criar um filho não dá trabalho. Esses últimos dias a Ana ficou doentinha, teve um início de febre, um pouco de diarréia e tosse (primeira vez que a Ana tem tudo isso). A dose de paciência foi redobrada... Toda vez que ouvia a Ana tossindo, meu coração apertava... Tentava pensar que não é nada grave, mas é difícil... Nós, como mães, gostaríamos de poder pegar aquele mal-estar do filho e passar pra nós. O negócio é se controlar, amamentar mais, dar mais colo e redobrar o carinho e a atenção.

Nesse momento, ela tá dormindo lindamente. Já tá melhor: sem febre, sem diarréia... A tosse continua, mas bem menos. Tá sendo tratada com homeopatia e, acima de tudo, muito amor. Muito colo de mãe, muito carinho de pai...
Imagem: arquivo pessoal - Rapha e Ana Clara brincando na cama...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Blogagem Coletiva: Bater em criança é covardia!



Pedagogia da palmada não funciona. A pedagogia do amor é a mais verdadeira!

Educar sem bater

Estudo internacional aponta que os castigos físicos, mesmo de forma moderada, podem prejudicar o desenvolvimento da criança, afetando a autoestima e a criatividade. Especialistas dizem ser fundamental insistir no caminho do diálogo.

Tapa, beliscão ou chinelada. A maioria dos pais já teve que apelar para castigos físicos na hora de impor limites aos filhos. Entretanto, uma pesquisa da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) divulgada recentemente condena o uso da força como forma de educação. Intitulado Relatório sobre o castigo corporal e os direitos humanos de crianças e adolescentes 2009, o estudo afirma que, mesmo de forma moderada, medidas desse tipo podem ser prejudiciais para o desenvolvimento das crianças. Segundo os especialistas, os malefícios do castigo vão desde a diminuição da criatividade até a baixa da autoestima.
O coordenador no Brasil do Programa de Cidadania Adolescente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Mario Volpi, acredita que os castigos físicos são uma forma de violência doméstica. “O castigo físico, mesmo em pequena escala, gera impactos negativos na autoestima e na autonomia da criança”, diz. Para ele, a solução está no diálogo. “O discurso de que bater é necessário é egoísta, já que faz bem apenas para o adulto, que não precisa dedicar muito mais tempo e esforço conversando com a criança. Batendo, ele acha uma solução muito mais rápida e falsamente eficaz”, completa.
Outra organização que atesta os malefícios dos castigos físicos para os pequenos é a organização não governamental sueca Save the Children. De acordo com a oficial para a América Latina e o Caribe da entidade, Márcia Oliveira, a medida pode transmitir mensagens de violência. “Qualquer tipo de atitude violenta transmite uma mensagem errada. Quando a criança vê os pais resolvendo as questões com um tapa ou uma chinelada, ela entende que essa é uma maneira válida de lidar com conflitos e carrega isso para outras áreas de vida”, explica.
Márcia lembra ainda que, em alguns casos, o uso da força pode diminuir a criatividade e a curiosidade das crianças. “Explorar o desconhecido é muito importante para o desenvolvimento social e motor de qualquer criança. Se ela fica curiosa, mexe em algo que não deve e acaba apanhando por isso, logo se sentirá desestimulada a pesquisar e descobrir o novo, pois teme apanhar novamente. Isso é uma forma de impedir o desenvolvimento pleno”, analisa.
Mesmo concordando que o método pode trazer prejuízos, muitos pais acreditam que, eventualmente, um tapa pode ser saudável. Essa é a opinião de Cássia Pacheco, mãe de Victória, 10 anos, e Augusto, 7. Ela acredita que em alguma situações a palmada pode servir para que os filhos percebam a gravidade de seus atos. “Eventualmente, eu acredito que ela tem o seu lugar. O que as pessoas precisam ter em mente é que há certos limites”, afirma a mãe.
Para ela o limite é o primeiro tapa. “Se você passa para a segunda ou a terceira palmada, é porque já está extrapolando. É preciso lembrar que você está educando e não descontando a raiva na criança”, diz Cássia, garantindo que só recorre a esse método quando já tentou resolver o problema através do diálogo. “Quando eles me deixam muito nervosa, peço que nem cheguem perto, para evitar que eu perca a cabeça e extrapole”, completa.
Marcas psicológicas
A assistente social Ludimila de Ávila Pacheco e a promotora de Justiça de Defesa da Infância e da Juventude do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Leslie Marques de Carvalho, engrossam o time de especialistas que condenam os castigos físicos. “Eles nem sempre deixam marcas no corpo, mas, sem dúvida, deixam marcas psicológicas na pessoa. Essas marcas podem se manifestar de várias maneiras, tanto na infância e adolescência, quanto na fase adulta”, aponta a assistente social.
Segundo a promotora da infância, existem várias formas de manifestação desses prejuízos. Em alguns casos, os castigos formam indivíduos que estabelecem relações conflituosas com a sociedade. “Essas relações podem ser a delinquência, o transtorno mental e alguns tipos de compulsividade — como o uso de drogas. Em outros, as manifestações voltam-se principalmente para o próprio indivíduo, como a baixa estima, a excessiva passividade e a timidez exagerada”, explica Leslie.
Para elas, a grande falha desse modelo está no fato de que ele não proporciona a construção da capacidade de sentir culpa. “A criança não aprende a se responsabilizar pelos próprios atos, pois este aprendizado pressupõe que o indivíduo possa vivenciar a experiência de ter provocado um dano e, a partir daí, sinta a necessidade e as possibilidades de repará-lo”, completa a promotora.
Marina Praia, mãe de João, 6 anos, concorda com as especialistas e diz que a palmada deve ser evitada. Segundo ela, é necessário ter em mente a diferença entre o adulto e a criança. “Nós não podemos esquecer que somos muito mais fortes que eles. Dependendo da situação, bater pode ser uma covardia”, diz. Sobre o filho, ela afirma que nunca precisou usar esse recurso. “Desde pequeno eu sempre procurei conversar e explicar. Talvez até por isso ele seja tão calmo. Nunca precisei bater e espero nunca precisar.”

“O discurso de que bater é necessário é egoísta, já que faz bem apenas para o adulto, que não precisa dedicar muito mais tempo e esforço conversando com a criança”

Mario Volpi, coordenador no Brasil do Programa de Cidadania Adolescente do Unicef


domingo, 15 de novembro de 2009

"O nosso Cordão Dourado... que passa por todo lado..."

Dia 31/10/2009... Um sábado lindo de sol: Festa da Primavera do Cordão Dourado. Cheio de rituais e aquelas crianças graciosas com suas coroas de flores na cabeça... Nossa, que festa linda!! Eu já era apaixonada pela Escola Waldorf, e nesse dia, então, não tive dúvidas de que a Ana Clara vai ser conduzida por essa antroposofia.

Ontem, dia 14/11/2009, fui num encontro chamado “Portas Abertas”, promovido para quem quisesse conhecer um pouco mais sobre o ritmo da Educação Infantil Waldorf, com uma vivência do ambiente e metodologia da escola Cordão Dourado.
O encontro era das 8h às 12h, então tive que levar a Ana junto... Fiquei um tanto quanto receosa com o comportamento dela, ela vive gritando aqui em casa e achei que ela pudesse ficar meio agitada lá também. Quando chegamos lá, a Ana já estava com muito sono e logo dormiu enrolada no nosso querido indispensável sling wrap. Haviam apenas 6 pessoas: eu, outras 3 mães e um casal de namorados interessados na pedagogia, além da diretora e duas professoras da escola.
Sentamos numa mesinha (adaptada para as crianças) e cada um deveria fazer um desenho com os gizes feitos de cera de abelha. Depois a diretora da escola mostrou uns desenhos, feitos por alunos, para explicar o desenvolvimento psicomotor da criança. Nessa escola, salvo algumas pouquíssimas vezes, as professoras não sugerem temas para os desenhos, é sempre livre: assim o desenho reflete muitos aspectos da criança, servindo de ferramenta para identificar em que fase o aluno se encontra. As turmas não são separadas por idade, e sim pela fase de desenvolvimento psicomotor de cada uma.
Depois dos desenhos, fomos “fazer o lanche”: pão sueco. Cada um recebeu um pedaço da massa, já pronta, e deveria esticar com um rolo até ficar bem fininha. Cada pedaço esticado recebeu seu lugar na forma e foram para o forno. Enquanto esperamos assar o pão, fomos conhecer os espaços de brincar (dentro da escola) e os brinquedos: bonecas waldorf, os carrinhos de madeira, bolas de lã... Nada de plástico. Nada muito cheio de cor. Deixou-se claro que os brinquedos devem passar uma ‘verdade’; o plástico é frio e leve, não tem peso como a madeira, não tem o calor da lã. As bonecas waldorf não apresentam expressão de felicidade nem de tristeza, assim a criança se sente à vontade de explorar os sentimentos da boneca em suas brincadeiras. Se a boneca já vem tem um sorriso estampado no rosto (como é o caso de várias bonecas de plástico que achamos nas lojas de brinquedos) e quando a criança “brinca que a boneca está triste”, não existe verdade naquilo que ela está fazendo. Os brinquedos são oferecidos aos alunos e estes ficam à vontade para explorar o que quiserem da maneira que quiserem, junto com o colega ou sozinho. A brincadeira é, assim como o desenho, sempre livre para a criança expressar e explorar os objetos e o espaço à vontade. Quando se deve passar à outra atividade, as crianças guardam os brinquedos, sempre “conduzidas” por uma música cantada pela professora.
Depois do conhecimento dos brinquedos da escola, fomos fazer a roda: uma atividade de história, música e movimento corporal. A professora conta uma história usando os movimentos do corpo e intercala entre a fala e o canto. Os movimentos, assim como os brinquedos, devem representar a verdade: “Se represento a ‘árvore’, não vou sair saltitando e mexendo os braços, pois árvores não pulam.” Afirma a professora Sara. “E não pedimos para as crianças imitarem cada movimento que fazemos, isso acontece naturalmente” disse a diretora Margarete.
Enquanto acontecia essa atividade, eu e a Ana não participamos: ela havia acordado e estava na “hora do papá”. Sentamos no chão, ao lado da roda, e fui dando a papinha de mamão enquanto a professora contava a história. A Ana não tirou os olhos da professora, que cantava e balançava os braços no alto representando “uma árvore que balança com o vento”.
Depois foi a hora do lanche. Fomos comer o pão sueco. Antes de comer é feito um agradecimento. O pão estava uma delícia!! Foi um momento muito gostoso: as professoras contaram vários fatos que acontecem entre as crianças nesse momento. A Ana ficou bem comportada no meu colo batendo com as mãozinhas na mesa.
Depois fomos conhecer o espaço aberto: um quintal lindo, com brinquedos de madeira, caixotes, cavalinhos entre vários outros que ficam à disposição dos alunos que correm e brincam livremente entre as árvores com balanços, na areia e na terra. Quando é hora de entrar, as professoras conduzem os alunos com uma música para guardar os objetos usados, formam um “trem” para entrarem, lavarem as mãos e entram para ouvir uma história. A professora Cassandra acendeu uma vela (que ficava numa mesinha no meio da roda de cadeirinhas) usou um “kântele” para cantar e contar a história. Quando a história acabou, conversamos durante uma meia hora sobre tudo que vimos na escola.
As escolas Waldorf em Curitiba tem uma ligação muito forte entre elas, não existe uma competição ou rivalidade, as pessoas (pais, professores, diretores) que seguem essa pedagogia são amigos, se conhecem e buscam JUNTOS uma vida melhor para as crianças dessa geração. A pedagogia e metodologia não se perdeu como aconteceu com outras como o "construtivismo", por exemplo. Os alunos não são bombardeados de estímulos: atividades exra-curriculaes, cores, televisão, computador... A vontade de cada criança é respeitada assim como seu ritmo de desenvolvimento. A escola não tem paredes pintadas com desenhos de personagens encontrados na mídia, não tem bexigas coloridas penduradas nas paredes, os brinquedos oferecidos às crianças foram feitos na própria escola... E isso tudo não é um questão de ser "alternativo" (como muitas vezes sou taxada por escolher uma escola assim pra minha filha, por querer ter tido um parto humanizado, por acreditar na psicomotricidade livre, por usar sling...) e sim uma questão de RESPEITO. Respeito pelo desenvolvimento da minha filha e é isso que ela merece.
Imagem: arquivo pessoal, Ana Clara e Rapha andando naquele agradável gramado aquecido pelo sol que veio iluminar a Festa da Primavera do Cordão Dourado.

domingo, 8 de novembro de 2009

Bebês voam !!!!!

Respeito muito quem utiliza qualquer meio de transporte com seu filho(a), mas em Curitiba as calçadas são um verdadeiro "inferno". Podem chamar de frescura, mas o que acontece que me deixa extremamente irritado é levar minha filha para um passeio de reconhecimento do mundo, dentro de um carrinho confortável que trepida feito uma britadeira, por causa da pavimentação que era usada no início do século passado e insistentemente é usada até hoje. Mas escrevo esse texto não só por indignação, mas para dizer que carregar uma criança junto de você não vai criar um adulto com problemas psicológicos, nem vai deixa-lá com problemas físicos (pernas defeituosas) no caso do uso de portage , slings e outros similares. É só necessário bom senso no uso destes instrumentos(e vale a pena comentar, que se esses meios de transporte fizessem tanto mal para as pernas das crianças, 90% dos asiáticos teriam as pernas tortas).
É bem estranho para algumas pessoas verem um homem escrevendo e falando sobre isso (e não sou um cara do tipo sensível !!) mas apenas acredito que se os adultos perdem a capacidade de voar, não acho necessário que as crianças percam também, mesmo que esse voo aconteça à apenas alguns centímetros do chão e não seja exatamente um voo solo.

Raphael Tobias

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Aninha de mêsversário!!

Hoje a Ana completa seus 7 meses...

Agora as mudanças são mais intensas, parece que ela tem se desenvolvido com mais rapidez, cada dia um descoberta... Que delícia!!! Há alguns dias começei a introdução de alimentos... Minha mãe achou o máximo: saiu mostrando para várias colegas do trabalho o vídeo que a gente fez da Ana comendo banana... Além disso, a Ana consegue se virar com muita facilidade e sai rolando pelo chão da sala... Se coloco ela sentada, ela já apóia uma mão para não cair... Quando ela não consegue voltar para a posição "sentada", ela fica de bruço e já dá indícios de que vai sair engatinhando logo logo. Mas, quando não se apóia com uma das mãos e nem fica de bruço, ela acaba dando umas cabeçadas no chão (tadinha...). Agora a Ana já tem suas preferências: se coloco alguns objetos na frente dela, ela não pega necessariamente o mais próximo, mas sim o que ela mais gosta. E se este estiver longe do seu alcance, ela faz suas manobras para alcançar o tal objeto. E assim nós vamos aprendendo, eu e ela, com todas essas mudanças...

Mas ontem eu e o Rapha ficamos "sentidos" com uma das mudanças da Ana Clara: praticamos "co-slipping" (quando o bebê dorme no mesmo quarto dos pais). O berço dela estava sem uma das grades e ficava encostado na nossa cama. Existia um pequeno desnível entre os dois (o colchão do berço era um pouco mais baixo do que a nossa cama), e, até então, ela não conseguia rolar do berço pra cama. Mas ontem ela conseguiu e nos vimos obrigados a colocar a grade do berço. Ai que tristeza... o primeiro sentimento de separação aflorou em nós... Foi tão estranho acordar a noite e não poder simplesmente esticar o braço e acarinhá-la para dormir novamente, não conseguir enxergá-la sem ter que me levantar... Era tão gostoso quando ela acordava de manhã, esticava aqueles bracinhos cheios de dobrinhas e me cutucava para me acordar...

Ai ai ai... "Como passa rápido!!!". Escutei muito isso e agora estou sentindo na pele!! Já foi o tempo que ela demorava 45minutos mamando, o tempo em que a língua dela era branquinha de leite, quando nós tínhamos que segurar a cabeçinha dela para dar o banho, quando dava pra largar ela sozinha no meio da cama com os brinquedos enquanto eu preparava o café, quando nem cogitávamos a idéia de dar papinha pra ela, quando ela mal conseguia virar a cabeça pra acompanhar o movimento de alguém, quando ela não tinha força nem coordenação pra segurar objetos, quando eu conseguia cortar as unhas dela sem choradeira... ai ai ai... tanta coisa já se passou... e só foram 7 meses... o que mais vem por aí?

Que difícil ser mãe e pai nessas horas, ver nossos pequenos crescerem tão rápido... E eu achando que a dificuldade de ser mãe e pai era não ter uma noite inteira de sono, ou ter que me adaptar aos horários das sonecas, ou ter que almoçar um pouco mais rápido pra poder amamentar, ou ter que arranjar alguém para cuidar dela enquanto eu saio, ou não poder mais dar uma saídinha a noite pra tomar uma cerveja e namorar um pouco, ou ter que aguentar as choradeiras de sono... Enfim. É muito mais. muito além disso. Mas é muito bom.
Imagem: arquivo pessoal, bolo de aniversário de 2008 do Dani (meu irmão).