domingo, 25 de abril de 2010

MEDO

Nossa sociedade é regida pelo medo. Medo de engravidar e perder o sucesso, medo de não engravidar, medo de perder o bebê, medo do parto, da dor. Medo de engordar demais, medo do bebê não engordar, medo do peito cair ao amamentar, medo do choro, medo do sono, medo, medo, medo.

E quando sentimos medo procuramos por segurança e a tecnologia torna-se um remédio para este mal e um perigoso instrumento quando usado indiscriminadamente. Durante a gestação, por exemplo, são milhares de exames, ultrassom para ver se está tudo bem. Este monitoramento constante é um reflexo de que vemos a gravidez como uma doença, o corpo da mulher como uma bomba relógio pronto para matar o ser que abriga ou se autodestruir.

Nesta busca pelas falhas, deixamos de curtir o momento mágico e transformador que é a possibilidade de abrigar a vida. Precisamos da muleta da tecnologia para ter a sensação da gravidez e saber que tudo está bem. Não foi apenas uma vez que ouvi relatos de mulheres que contam que no final da gestação foram inúmeras ao hospital para saberem se estava tudo bem com o bebê, que já sem espaço, costumam se mexer menos.

E a cesárea é a evolução tecnológica do parto para evitar que perigos aconteçam na hora do nascimento em que a vagina assassina costuma causar sofrimentos ao pobre bebê. Ninguém diz a esta mulher que a cesárea eletiva mata mais do que partos naturais. E ela não quer ouvir, porque nos quatro cantos há berros de medo que ela quer calar passivamente.

Quando o bebê nasce, na cabeceira da cama, o telefone do obstetra é substituído está pelo do pediatra. A mamadeira é um alento para monitorar o quanto o bebê mama, uma vez que com o peito é impossível. A balança vale mais do que ver um bebê magro, porém esperto e feliz. Há números, curvas que os bebês devem seguir com rigor e caso algum saia da normalidade, uma avalanche de investigações tecnológicas são tomadas. E o bebê que engorda no seu ritmo, com leite materno, recebe um leite artificial para voltar nos padrões.

Neste final de semana ouvi a pior das justificativas para uso de leite artificial: dar o peito é coisa de pobre. E a santa ignorância ainda dizia que a Organização Mundial de Saúde faz campanhas e diz que o leite materno deve ser oferecido exclusivamente até 6 meses e no mínimo até 2 anos, pois estamos falando de uma população basicamente de pobres e subnutridos. Essa mulher não amamentou seu filho e tem orgulho de ter dado leite artificial em embalagens que custam nada menos que a bagatela de 70 reais. Salve a tecnologia.

Sem contar que parece que as doenças se tornaram tão comum como as catástrofes ambientais. Perdi a conta de quantas crianças foram diagnosticadas de refluxo oculto, mesmo engordando alguns gramas por mês. Criança agitada já recebe diagnóstico de hiperatividade e vivem a base de medicamentos. Assim como as cesáreas são indicadas pelos motivos mais tolos, a indústria farmacêutica parece ser a mais beneficiada com nossos medos.

Enfim me sinto tão perdida neste mundo tecnocrata. Ainda bem que encontro ecos neste mundo mamífero que acredita que a verdadeira força vem do natural, que o melhor leite e do nosso peito, que as doenças podem ser tratadas com homeopatia.

Acredito que em breve considerarão o sexo perigoso, assim como cesárea se tornou o meio tecnológico de trazer a vida. Para só restará a opção da inseminação para seleção óvulos perfeitos.

No meu interior espero que possamos reverter este triste destino e é por isso que estou aqui. Espero viver para que o dia que a força da natureza volte a ser mais forte que a doença da tecnologia e esta sirva apenas para nos servir quando todos os meios naturais verdadeiramente falharrem.

Kalu Brum
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Este texto foi publicado no blog das Mamíferas, mulheres que não conheço pessoalmente, mas que admiro demais!! Em especial a Kalu, pois sempre me identifiquei com seus textos, suas palavras.
Não tenho tido muita inspiração para escrever aqui no meu blog (e cheguei até a pensar em dar um tempo), mas quando li este texto, resolvi postá-lo aqui, pois também sou partidária dessas idéias e gostaria de deixar isso (mais uma vez) registrado aqui.

Beijos.

4 comentários:

  1. Adorei o texto! Obrigada por ter postá-lo!
    Acredito no leite materno. Aliás, existe coisa mais gostosa e prática no mundo??? Pena que a amamentação exclusiva é só até os 6 meses...

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  2. é uma pena mesmo, Fer... eu tentei protelar ao máximo a introdução de alimentos sólidos, pois não via nenhuma necessidade de introduzir aos 6 meses, mesmo pq a Ana não tinha o mínimo interesse. Consegui até aos 7 meses... já foi uma vitória!! rsrsrs...

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  3. Otimo texto Isa.
    =)
    Como todos que escreve ou coloca aqui.
    Vc é um exemplo.

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  4. Olá, Isa!! Escrevi um monte e nao foi, agora vou resumir.....
    Que maravilha, estava procurando por pediatria antroposofica e achei vc!!!
    Lindo blog!! Que bom te conhecer no meio virtual após te conhecer pessoalmente!!!
    Ser de luz, é isso aí, acreditar e compartilhar como diria nossa amiga gaiana Maria José!!
    Beijos no coração!!
    Quero slingar e dançar mais!!
    Angélica

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