Fomos pra casa da minha mãe almoçar. Quando contei, ela ficou uma “pilha”! Almoçamos (Rapha, eu, minha mãe e logo depois meu irmão, o Daniel). Fomos, Rapha e eu, pra casa (“sede” da Treze de Maio). Terminei de arrumar minha mala e a da Ana Clara. Esperei a minha mãe e fui pro hospital. O Rapha foi dar aula.
Chegando na Maternidade Milton Muricy, esperei a consulta durante meia hora. Fui atendida às 17h35. A plantonista fez o toque: dilatação de 5 pra 6. Ela disse que eu teria que ser internada naquele momento. Mostrei meu plano de parto pra ela. Foi quando meu mundo começou a desabar. “O hospital não tem estrutura para receber uma doula no pré-parto durante o TP, mas nós vamos estar lá, você não vai ficar sozinha.”. E eu lá queria um “bando de gente” que eu nunca vi na vida pra me acompanhar num dos momentos mais importantes da minha vida??
Depois de chorar muito e deixar minha mãe mais nervosa ainda, burlamos um pouco as regras, pagamos por um quarto individual (pois meu convênio médico só cobre quarto coletivo) e a Cecília (minha doula), minha mãe e o Rapha puderam me acompanhar. Porém... chegando no quarto, o Dr. Flávio fez o toque (19h40)e a bolsa estorou. Dilatação: de 6 pra 7. Ele pediu uma maca pra me levarem à sala de pré-parto. Com o nervosismo do momento, não tinha mais forças pra brigar e ficar o TP no quarto. Pelo menos o Dr. Flávio permitiu que a Titi me acompanhasse. Na sala tinha uma bola, chuveiro e dois leitos. Tive que trocar a roupa e colocar aquele avental horroroso aberto nas costas. Na sala ficamos só eu e a minha doula querida. Até então minhas contrações eram fracas (e eu não sentia dor alguma) com duração de 30 a 40 segundos e intervalos variados de 3, 5 e 7 minutos. Fiquei na bola “curtindo” minhas contrações e olhando o relógio. 20h20 o Dr. Flávio foi ver a quantas andava minha dilatação e os batimentos cardíacos do bebê. Tudo certo: 7 de dilatação. Comecei a me sentir um pouco fraca. A Titi me deu Gatorade (escondido) e fui tomar um banho. Eram 20h45, “visita” do Flávio mais uma vez. A partir de então, passei a não prestam mais muita atenção no relógio, não contei mais os segundos de contrações nem o intervalo entre elas. Comecei a sentir dor e a Titi sempre massageando as minhas costas (Que alívio!!). Cada vez que o Flávio me analisava ele já me pedia pra fazer força. Às vezes eu fazia, às vezes não (aí ele “brigava” comigo). Eu intercalava entre a bola e abraços fortes na Titi em cada contração. A dor e as contrações passaram a ficar mais intensas. Cheguei a 10 de dilatação e Ana Clara não estava bem encaixada. Comecei a ter que fazer mais força. Às 23h10 fomos, Flávio, Titi e eu para o centro cirúrgico. Logo o Rapha estava lá também. De repente estavam lá mais duas enfermeiras “em cima” da minha barriga empurrando a Ana Clara para ela sair. Eu já não sentia mais dor, mas muito calor. Porém, as contrações estavam fracas e duravam muito pouco tempo. Aceitei a ocitocina. Muito rapidamente senti o efeito e as contrações ficaram fortes e eu conseguia fazer força pra ela sair. O Rapha e a Titi seguravam a minha cabeça e meu pescoço enquanto eu fazia força. Só passando por isso é que passamos a acreditar mais em nós mesmas: não imaginava que eu pudesse ter tanta força quanto eu tive naquele momento. Eu só conseguia imaginar o calor da minha filha em meus braços e meu batimentos cardíacos diminuindo ao sentir aqueles dedos minúsculos tocando meu peito... Como se não bastasse a força física que eu jamais imaginei ter, precisei provar que tinha uma força emocional além do normal... Pois nada do que eu imaginei aconteceu:
Ana Clara nasceu às 23h40.
O Dr. Flávio cortou o cordão. A pediatra Marieli mostrou a Ana Clara em seus braços e saiu correndo para a Unidade de Tratamento Intensivo – UTI.
Não consigo explicar meu sentimento naquele momento. Um vazio imenso, medo, insegurança e mistério. O que havia acontecido com a minha filha?
Ana Clara nasceu com duas voltas de cordão e aspirou mecônio no momento do parto. Foi entubada na mesma hora e teve falta de oxigenação no cérebro por alguns instantes. Dr. Flávio ‘tentou’ explicar o motivo da aspiração meconial (pois não existe explicação pra tal acontecimento), mas não lembro o que ele disse. Só consegui ver a minha filha às 11h da manhã seguinte – terça-feira, dia 07 de abril. Ela ficou uma semana na UTI Neonatal.

Só pude ter minha filha em meus braços na quinta-feira dia 9, e a partir daí comecei amamentá-la no seio, pois até então ela estava no soro e monitorada 24h. Esgotava o leite a cada 3h (para aquelas enfermeiras - sem coração - amamentarem minha filha com o MEU LEITE nas horas que eu não estava), quando não estava tomando banho pra dar uma aliviada, pois eu tinha muito leite e ficava tudo empredado: quase morri de tanta dor. Depois que recebi alta, sexta-feira dia 10, fui pra casa da minha mãe. Nos outros dias, chegava às 9h da manhã na maternidade e só ia embora às 19h30. Foi a semana mais longa da minha vida. Segunda-feira, dia 13 de abril, Ana Clara recebeu alta e saiu no sling coberta de olhares curiosos e cheio de preconceitos.
Ainda não superei esse ocorrido... Penso nisso todos os dias. Graças a Deus, Ana é um bebê lindo e muito saudável. Mas tenho esperança de um dia ainda saber a causa da aspiração de mecônio.
Isa...A causa para iso o Dani já explicou: os bebês dessa família não podem apenas nascer! Tem que nascer com emoção!!!!
ResponderExcluirAHAHAH
Mas, bricnadeiras à parte, Você não teve o parto dos seus sonhos, e isso aocntece com 90% das mulheres. O que precismos e nos fortalecer para superar essa perda (eu considero uma perda irreparáve)e viver "um dia de cad vez". Eu ainda remôo a minh desnecesárea, e espero um dia alcançar um sonhado VBAC. enquanto isso me consolo pensando que, depois de tudo que passamos (eu e o Dani)a Daniela está aqui, comigo, saudável e feliz!
Beijos
*Que relato maravilhoso!!!!!!!!!!!!!!!!!
Isa, amei seu blog :o)
ResponderExcluirEstou aqui emocionada lendo seu relato.
Acompanhei tudo de pertinho pela Felicitas/Mary/Cecilia, e torci muito pra que tudo ficasse bem com a pequena e com você. Você foi muito forte e certamente Ana Clara terá muito orgulho disso tudo e quem sabe ela não precise lutar tanto pra ter um parto digno porque a mãe faz a sua parte nesta luta ;o)
O que aconteceu é um evento raro, mas quando acontece conosco a estatistica não importa. SAM não tem muita explicação. Isso poderia ter acontecido independente da via de parto.
É muito dificil encarar o parto real, mas um bom ponto de partida é tentar entender o que aconteceu como aconteceu. O relato é um bom começo.
Parabéns pela Ana Clara. É lindo ver vocês duas. Saiba que quando quiser conversar estou por aqui.
Beijos!!!!
Paty Bortolotto
:) Você foi uma guerreira e com certeza sua filha pode se orgulhar disso, independente de tudo que vc passou, vc foi muito forte! :)
ResponderExcluirParabéns! :) e ela é linda!
Olá! Você não me conhece, mas estou grávida e procurando relatos de partos ocorridos no Hospital Milton Muricy. O seu é o primeiro relato que acho que não é cesárea. Quero muito um parto normal (de preferencia natural) também faço acompanhamento com doula... fiquei bem preocupada ao ler seu relato... O seu plano também é clinihauer? Nossa, estou tão decepcionada com os obstetras, estou com 25 semanas e ainda não achei ninguém... Como foi com o seu? se puder me escreve um email: ferbaukat@hotmail.com
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