quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Relato.

Segunda-feira, dia 06 de abril de 2009... Meio-dia eu e o Rapha fomos na consulta com a Dra. Rose (ué? mas o ginecologista obstétra não era o Dr. Flávio? Sim... mas eu não estava muito satisfeita nem muito segura com ele e resolvi falar com outro médico... Que fosse adepto do parto natural e humanizado... Porém a Dra. Rose não atende por convênio médico, então só fui lá ter uma consulta de rotina). Ela analisou todos meus exames e ecografias que eu havia feito durante a gravidez. Depois ela me examinou (coisa que o Dr. Flávio não fazia) e disse que eu já estava com 4 de dilatação e que minha bolsa estava pra estourar a qualquer momento. “Meu Deus! Eu já estava em trabalho de parto e não sabia!” Eu estava tendo contrações, mas não sentia nenhuma dor. Nem mesmo incômodo. Fiquei assustada: estava chegando a hora... “Será que já estou pronta? Será que vai dar tudo certo? Como será meu parto?” Enfim, passaram inúmeras questões na minha cabeça naquele momento, questões que só teriam resposta depois que Ana Clara nacesse. Então a Dra. Rose me acalmou e me aconselhou que eu fosse pro hospital fazer uma consulta com o plantonista e pedisse pra ele me fazer o toque.
Fomos pra casa da minha mãe almoçar. Quando contei, ela ficou uma “pilha”! Almoçamos (Rapha, eu, minha mãe e logo depois meu irmão, o Daniel). Fomos, Rapha e eu, pra casa (“sede” da Treze de Maio). Terminei de arrumar minha mala e a da Ana Clara. Esperei a minha mãe e fui pro hospital. O Rapha foi dar aula.
Chegando na Maternidade Milton Muricy, esperei a consulta durante meia hora. Fui atendida às 17h35. A plantonista fez o toque: dilatação de 5 pra 6. Ela disse que eu teria que ser internada naquele momento. Mostrei meu plano de parto pra ela. Foi quando meu mundo começou a desabar. “O hospital não tem estrutura para receber uma doula no pré-parto durante o TP, mas nós vamos estar lá, você não vai ficar sozinha.”. E eu lá queria um “bando de gente” que eu nunca vi na vida pra me acompanhar num dos momentos mais importantes da minha vida??
Depois de chorar muito e deixar minha mãe mais nervosa ainda, burlamos um pouco as regras, pagamos por um quarto individual (pois meu convênio médico só cobre quarto coletivo) e a Cecília (minha doula), minha mãe e o Rapha puderam me acompanhar. Porém... chegando no quarto, o Dr. Flávio fez o toque (19h40)e a bolsa estorou. Dilatação: de 6 pra 7. Ele pediu uma maca pra me levarem à sala de pré-parto. Com o nervosismo do momento, não tinha mais forças pra brigar e ficar o TP no quarto. Pelo menos o Dr. Flávio permitiu que a Titi me acompanhasse. Na sala tinha uma bola, chuveiro e dois leitos. Tive que trocar a roupa e colocar aquele avental horroroso aberto nas costas. Na sala ficamos só eu e a minha doula querida. Até então minhas contrações eram fracas (e eu não sentia dor alguma) com duração de 30 a 40 segundos e intervalos variados de 3, 5 e 7 minutos. Fiquei na bola “curtindo” minhas contrações e olhando o relógio. 20h20 o Dr. Flávio foi ver a quantas andava minha dilatação e os batimentos cardíacos do bebê. Tudo certo: 7 de dilatação. Comecei a me sentir um pouco fraca. A Titi me deu Gatorade (escondido) e fui tomar um banho. Eram 20h45, “visita” do Flávio mais uma vez. A partir de então, passei a não prestam mais muita atenção no relógio, não contei mais os segundos de contrações nem o intervalo entre elas. Comecei a sentir dor e a Titi sempre massageando as minhas costas (Que alívio!!). Cada vez que o Flávio me analisava ele já me pedia pra fazer força. Às vezes eu fazia, às vezes não (aí ele “brigava” comigo). Eu intercalava entre a bola e abraços fortes na Titi em cada contração. A dor e as contrações passaram a ficar mais intensas. Cheguei a 10 de dilatação e Ana Clara não estava bem encaixada. Comecei a ter que fazer mais força. Às 23h10 fomos, Flávio, Titi e eu para o centro cirúrgico. Logo o Rapha estava lá também. De repente estavam lá mais duas enfermeiras “em cima” da minha barriga empurrando a Ana Clara para ela sair. Eu já não sentia mais dor, mas muito calor. Porém, as contrações estavam fracas e duravam muito pouco tempo. Aceitei a ocitocina. Muito rapidamente senti o efeito e as contrações ficaram fortes e eu conseguia fazer força pra ela sair. O Rapha e a Titi seguravam a minha cabeça e meu pescoço enquanto eu fazia força. Só passando por isso é que passamos a acreditar mais em nós mesmas: não imaginava que eu pudesse ter tanta força quanto eu tive naquele momento. Eu só conseguia imaginar o calor da minha filha em meus braços e meu batimentos cardíacos diminuindo ao sentir aqueles dedos minúsculos tocando meu peito... Como se não bastasse a força física que eu jamais imaginei ter, precisei provar que tinha uma força emocional além do normal... Pois nada do que eu imaginei aconteceu:

Ana Clara nasceu às 23h40.

O Dr. Flávio cortou o cordão. A pediatra Marieli mostrou a Ana Clara em seus braços e saiu correndo para a Unidade de Tratamento Intensivo – UTI.
Não consigo explicar meu sentimento naquele momento. Um vazio imenso, medo, insegurança e mistério. O que havia acontecido com a minha filha?

Ana Clara nasceu com duas voltas de cordão e aspirou mecônio no momento do parto. Foi entubada na mesma hora e teve falta de oxigenação no cérebro por alguns instantes. Dr. Flávio ‘tentou’ explicar o motivo da aspiração meconial (pois não existe explicação pra tal acontecimento), mas não lembro o que ele disse. Só consegui ver a minha filha às 11h da manhã seguinte – terça-feira, dia 07 de abril. Ela ficou uma semana na UTI Neonatal. Entrei em depressão. Durante essa semana a psicóloga do hospital veio conversar comigo. Não gostei muito dela. Ela chegou no meu quarto terça-feira a noite e disse: “Vim aqui conversar, pois você foi a primeira gestante a trazer uma doula para o trabalho de parto. Também sou adepta ao parto humanizado, mas sabe como é, né?! essas coisas são difíceis... Difícil mudar todo um sistema que caminha com o pensamento de que cesárea é mais seguro, não tem dor e tal... Nós temos projetos, palestras aqui no hospital sempre sugerindo esse tipo de parto...”. Vou confessar que não engoli muito aquela história, mas em todo caso, ela foi a pessoa que me ouviu com mais atenção num momento triste em que eu estava sozinha naquele quarto frio da maternidade. Aliás, ela disse uma coisa bem interessante, (que, toda vez que fico irritada com a choredeira da Ana, eu lembro disso): a diferença entre o parto idealizado e o parto real, do bebê ideal e o bebê real. E refletir sobre isso.
Só pude ter minha filha em meus braços na quinta-feira dia 9, e a partir daí comecei amamentá-la no seio, pois até então ela estava no soro e monitorada 24h. Esgotava o leite a cada 3h (para aquelas enfermeiras - sem coração - amamentarem minha filha com o MEU LEITE nas horas que eu não estava), quando não estava tomando banho pra dar uma aliviada, pois eu tinha muito leite e ficava tudo empredado: quase morri de tanta dor. Depois que recebi alta, sexta-feira dia 10, fui pra casa da minha mãe. Nos outros dias, chegava às 9h da manhã na maternidade e só ia embora às 19h30. Foi a semana mais longa da minha vida. Segunda-feira, dia 13 de abril, Ana Clara recebeu alta e saiu no sling coberta de olhares curiosos e cheio de preconceitos.
Ainda não superei esse ocorrido... Penso nisso todos os dias. Graças a Deus, Ana é um bebê lindo e muito saudável. Mas tenho esperança de um dia ainda saber a causa da aspiração de mecônio.

4 comentários:

  1. Isa...A causa para iso o Dani já explicou: os bebês dessa família não podem apenas nascer! Tem que nascer com emoção!!!!
    AHAHAH
    Mas, bricnadeiras à parte, Você não teve o parto dos seus sonhos, e isso aocntece com 90% das mulheres. O que precismos e nos fortalecer para superar essa perda (eu considero uma perda irreparáve)e viver "um dia de cad vez". Eu ainda remôo a minh desnecesárea, e espero um dia alcançar um sonhado VBAC. enquanto isso me consolo pensando que, depois de tudo que passamos (eu e o Dani)a Daniela está aqui, comigo, saudável e feliz!
    Beijos
    *Que relato maravilhoso!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  2. Isa, amei seu blog :o)

    Estou aqui emocionada lendo seu relato.
    Acompanhei tudo de pertinho pela Felicitas/Mary/Cecilia, e torci muito pra que tudo ficasse bem com a pequena e com você. Você foi muito forte e certamente Ana Clara terá muito orgulho disso tudo e quem sabe ela não precise lutar tanto pra ter um parto digno porque a mãe faz a sua parte nesta luta ;o)
    O que aconteceu é um evento raro, mas quando acontece conosco a estatistica não importa. SAM não tem muita explicação. Isso poderia ter acontecido independente da via de parto.
    É muito dificil encarar o parto real, mas um bom ponto de partida é tentar entender o que aconteceu como aconteceu. O relato é um bom começo.
    Parabéns pela Ana Clara. É lindo ver vocês duas. Saiba que quando quiser conversar estou por aqui.
    Beijos!!!!
    Paty Bortolotto

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  3. :) Você foi uma guerreira e com certeza sua filha pode se orgulhar disso, independente de tudo que vc passou, vc foi muito forte! :)

    Parabéns! :) e ela é linda!

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  4. Olá! Você não me conhece, mas estou grávida e procurando relatos de partos ocorridos no Hospital Milton Muricy. O seu é o primeiro relato que acho que não é cesárea. Quero muito um parto normal (de preferencia natural) também faço acompanhamento com doula... fiquei bem preocupada ao ler seu relato... O seu plano também é clinihauer? Nossa, estou tão decepcionada com os obstetras, estou com 25 semanas e ainda não achei ninguém... Como foi com o seu? se puder me escreve um email: ferbaukat@hotmail.com

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